segunda-feira, 5 de julho de 2010

_Cap. 13_ Novas ordens/

Referia-se às horas como unidades decrescentes da vida, retroceder aos momentos em que as tardes ainda mantinham aquele tom de amarelo. Noel vivia num mundo distante, cercado de seres estranhos. Mas Noel ainda não era Noel, era somente o reflexo translúcido de alguma personalidade vazia, deixando transparecer o que havia atrás. Noel nunca foi Noel, mas sempre esteve a dois passos de ser-lo.

Sentava junto à parede, na combinação que o deixasse o mais distante de todos. Sempre esperava um pouco mais de atenção, talvez um: “Sente-se bem” ou invés de “quanto tirou?”, porém Noel contrariava tudo com seus fantásticos resultados!

Chamada:
_John Noel Wolff
_Aqui!
Noel?_ Sim!_ Como o papai Noel? / Isso!

Todo ano era a mesma tortura, as moças com seus grandes livros chamando um a um, até chegar em John Noel Wolff, como o papai Noel. Recusava-se a estética do velho barbado naquela roupa ridícula, a combinação do N seguido por o, e, l, soava como ruído, porém foi transformando-se ao passar dos anos, tornando-se uma referencia pop. Da mesma forma a própria imagem de Noel foi alterando-se entre as camisetas e as mensagens de outdoors. Noel nunca mudou!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Noel arrastava os moveis pela sala, combinava e reajustava, procurava ordem como quem tenta decifrar códigos ocultos. Parados numa posição estranhamente sinestésica, pontuados de dois a dois, como quem representa os números agrupados no verde. Arrastava-se na parede apoiando os joelhos serrados em “V”, epifania repentina, as formas, os espaços, tudo convergia para o sensível sentido que há no nada. Da mesma forma, as texturas possuem um padrão quase musical. Noel desliza os dedos sobre o chão, nem precisa olhar enquanto deduz o previsível trajeto dos azulejos. Silêncio. Caído junto ao vértice inferior do hexaedro, à constante sensação de vôo, suspenso numa repulsão psicológica, não se move. Feições extasiantes.

Noel abre lentamente os olhos. Apoiando as mãos no chão, vira lentamente a nuca em direção à vidraça que da para um slogan de sabão em pó. Ainda é noite. Reflete alguns instantes, mas permanece imóvel como John Constantine na cena final do filem homônimo.

Por do Sol, Por do Sol, repete Noel enquanto traceja com os dedos: MCMLXXX, MCMXM, MXM!

amor tolo é providencial?


__amor tolo é providencial, gritava loucamente Brian__

Amor, eu te sirvo minha cabeça num prato e você somente responde com um gesto frio!
Você entalha seu nome no meu braço, enquanto eu somente observo encantado, guiado pelo nu dos cegos//

meu coração é uma Prostituta!

quarta-feira, 30 de junho de 2010


Nunca imaginei que seria assim, mesmo você sendo, sem dúvida, o início, o fim era irremediável!

/Mesmo assim, a canção teria em seu fim entorpecido, uma melodia fúnebre/

Acoado num canto e, mesmo sem saber, acorrentado ao passo vil de um instante! Ansiava às sombras com um animal solitário à sua espécie, mais do mesmo!